Acesso a novo aeroporto de Natal será por estrada de terra durante a Copa
Vinícius Segalla
A cidade de Natal terá um novo aeroporto a partir de abril do ano que vem. Trata-se do terminal São Gonçalo de Amarante, cujas obras de construção vinham se arrastando desde 1995 até o ano passado, quando foram transferidas para a iniciativa privada (Consórcio Inframérica). Pelo contrato assinado entre governo federal e consórcio, ele só precisara ficar pronto dois meses após a Copa. Mas o investidor privado concordou em se responsabilizar a entregar o empreendimento até abril de 2014, para que pudesse ser utilizado durante o Mundial de futebol, que terá início em junho daquele ano.
O consórcio garante que entregará a obra tempo, e diz que fez, até agora, pouco mais de 40% da obra. Só o que não estará pronto, a seguir o ritmo atual de trabalho, são os acessos viários ao aeroporto, cujas obras, orçadas em R$ 72 milhões, tiveram início na semana passada. São dois corredores que totalizarão 37 quilômetros de via asfaltada. Por enquanto, não há nada nem perto disso, apenas trabalhos de topografia estão sendo realizados.
A cargo do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, as obras de acesso ao terminal já tiveram um cronograma com tempo de sobra para ser cumprido até antes da Copa. A primeira licitação foi concluída em 2009, vencida pela empreiteira Queiroz Galvão. Custaria R$ 16 milhões, com financiamento federal.
Até o início deste ano, porém, os recursos anda não haviam sido liberados, o que fez com que a empreiteira exigisse um aditivo contratual para fazer a obra a tempo. O governo estadual disse não. De forma amigável, foi desfeito o contrato. Uma nova empresa, então, tomou o lugar da Queiroz Galvão no mês passado, a EIT Engenharia. Novo custo da obra, que sofreu alterações e ampliações em relação ao projeto inicial: R$ 72 milhões.
A promessa é que a obra seja entregue no início de junho do ano que vem, poucos dias antes da Copa, embora mal tenha começado. A realidade, entretanto, já vem alterando os planos. Autoridades potiguares anunciaram na semana passada que estão demandando os máximos esforços para entregar pelo menos um dos corredores viários a tempo da Copa.
Ainda assim, será difícil. Difícil ao ponto de o consórcio Inframérica informar que, depois de ter investido na aceleração das obras no aeroporto para entrega-lo a tempo da Copa, irá exigir o reequilíbrio econômico-financeiro previsto em contrato por não poder operar a partir do período combinado. É que o contrato firmado entre a empresa e o governo federal previa que o aeroporto deveria entrar em funcionamento imediatamente após sua inauguração. Isso já não vai ocorrer, visto que a previsão de entrega atual do terminal é abril de 2014.
A Inframérica venceu leilão para terminar de construir e operar o São Gonçalo do Amarante por R$ 170 milhões, um ágio de 228% em relação ao valor original. Ao todo, o investimento anunciado do Brasil no terminal é de R$ 410 milhões, sem contar o que já foi gasto de 1995 para cá para construir a pista de pouso. Com os atrasos e a iminente necessidade de reequilíbrio contratual, é certo que custará mais do que isso.
Para José Antunes Sobrinho, presidente da Inframérica, ''a situação é surreal''. Segundo ele, o governo potiguar ''é quem está com a corda no pescoço. Nós iremos inaugurar o aeroporto no prazo''.
Inaugurar o aeroporto com acesso somente por estrada de terra é impensável. Pelas vias existentes hoje em dia, o trajeto do terminal à zona hoteleira da cidade leva 71 minutos, mais de duas horas. Qual é a solução? Trabalhar com a hipótese de utilizar o aeroporto já existente em Natal, o Augusto Severo. Ou seja, depois de acelerar e aumentar o custo das obras e dos contratos para tornar viável a inauguração do Aeroporto São Gonçalo do Amarante a tempo para a Copa, aeroporto este que vem sendo construído há quase 20 anos, investe-se agora em obras que servem para viabilizar o uso durante a Copa do antigo terminal da cidade.
Para tanto, obras no Augusto Severo estão sendo feitas, com recursos federais e condições especiais para as empreitadas que devem ficar prontas a tempo do torneio de futebol de 2014. A última intervenção concluída foi a ampliação do sistema de embarque, com a aquisição de novos aparelhos de raio-x.
A Infraero entregou, há um ano, obras de modernização do aeroporto Augusto Severo.O custo anunciado foi de R$ 16,4 milhões e contemplaram a reforma dos toaletes, novas salas de embarque e desembarque, instalação de novos elevadores e escadas rolantes na parte interna do desembarque, a instalação de 12 novos balcões de check-in e até a construção de um fraldário.
Segundo a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, o empreendimento é importante ''para a recepção dos turistas que visitam o estado, ainda mais com a aproximação dos grandes eventos, como o Mundial de 2014''.
Ou seja, tacitamente, já se sabe que, durante a Copa, a desfeito dos esforços físicos e materiais feitos às custas do dinheiro público, não haverá novo aeroporto em Natal operando a tempo da Copa. Se houver, terá sido gasto milhões em dinheiro público para melhorar um aeroporto que será desativado logo após a inauguração do novo terminal.
Então, ficamos assim: para entregar o novo aeroporto de Natal a tempo da Copa, o poder público está investindo cerca de R$ 500 milhões em obras aceleradas de construção e acesso ao terminal. Mas, como ele não deverá ficar pronto a tempo, investiu-se outros R$ 16, 4 milhões no aeroporto antigo, como um plano B. E as obras não vão parar por aí. Na semana passada, goteiras e problemas estruturais foram detectados no terminal, que terá que passar por nova reforma.
E o pior vem agora: o Aeroporto Augusto Severo será desativado após a inauguração do São Gonçalo do Amarante, todos os recursos investidos servem apenas para que ele seja utilizado até a Copa, depois disso, de nada adiantarão. Para Fernando Nicácio, superintendente regional da Infraero no Nordeste, porém, o investimento não será inútil. obras como ampliação de check-in e construção de fraldário serão úteis após a Copa. ''Esse aeroporto deve deixar de operar viação comercial, mas existem várias opções para utilizar esse espaço no futuro, não só no segmento da aviação, mas como indústria aeronáutica; centro de distribuição logística; uma grande universidade; um centro atacadista''. Então, tá.