Arena da Baixada: R$ 99 mi mais cara, um ano de atraso e gambiarra para ficar pronta a tempo
Vinícius Segalla
Por Tiago Dantas e Vinícius Segalla, da equipe de reportagem do UOL Esporte
O estádio do Clube Atlético Paranaense, a Arena da Baixada, está sendo reformado para receber os jogos que acontecerão na cidade de Curitiba em junho de 2014, na Copa do Mundo no Brasil. Obra privada, recebe dinheiro das três esferas de governo. O primeiro orçamento do projeto, de 2009, era de R$ 135 milhões.
Hoje, calcula-se um gasto de R$ 234 milhões, R$ 99 milhões a mais. Os trabalhos tiveram início em abril de 2011 e deveriam ter chegado ao fim em dezembro do ano passado.
A obra atrasou, porém. Atrasou tanto que será entregue em dezembro deste ano, um ano depois do previsto, sem estar pronta. Na semana passada, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, visitou as obras da Arena da Baixada.
Ele constatou que as obras estão 76% concluídas, a quatro meses da data de entrega, considerando as intervenções do lado de fora da arena. Preocupado com o prazo exíguo, o cartola solicitou – e foi atendido – que os responsáveis pela obra desistissem de executar o projeto da cobertura da arena.
Era um teto retrátil, que poderia fechar e abrir em menos de 15 minutos, para melhor atender ao público e ao espetáculo em dias de sol ou de chuva. ''Fizemos um pedido para adiar a construção do teto retrátil para que o estádio fique pronto para a Copa. Baseado nisso, posso dizer que o estádio ficará pronto dentro do prazo'', disse o secretário-geral da Fifa na terça-feira passada, em Curitiba.
Assim, o projeto do teto retrátil foi adiado, em seu lugar está sendo construída uma cobertura convencional que tem outubro deste ano como data de entrega. Uma cobertura planejada agora, não a que fora pensada antes da cobertura retrátil, uma cobertura que dará lugar à cobertura retrátil logo depois da Copa, uma gambiarra ao plano até então em voga. Depois do Mundial de futebol, aí sim, o Atlético Paranaense irá concluir o projeto com a cobertura retrátil, única no Brasil.
É um estádio privado, o clube de Curitiba pode alterar seu projeto de cobertura como bem entender. Muito embora existam detalhes a se considerar. Um deles é o de que dois terços do custo da obra são dinheiro público, recursos advindos da Fomento Paraná, agência estadual, e de créditos construtivos emitidos pela Prefeitura de Curitiba.
O Atlético Paranaense, por sua vez, seria responsável por um terço do investimento na nova arena, no valor de R$ 61 milhões, quando a obra estava ainda orçada em pouco mais de R$ 180 milhões, e utilizaria dinheiro emprestado junto ao BNDES para bancar sua parte na obra.
O clube, porém, não conseguiu cumprir as exigências de garantia do banco estatal, e o empréstimo não foi liberado. A solução encontrada foi o Estado do Paraná tomar o empréstimo junto ao BNDES, para depois repassar ao clube de Curitiba, já sem exigir tantas garantias quanto o BNDES.
Você entendeu? O Atlético Paranaense está pagando só um terço do custo da reforma da Arena Baixada porque a obra é considerada de interesse público, já que garante a realização da Copa na cidade de Curitiba. O clube, então, toma emprestado dinheiro público para pagar o seu terço. Quem é o garantidor do empréstimo? O próprio poder público. Se o Atlético Paranaense não pagar o contribuinte federal pelo empréstimo que tomou, quem é que paga? O contribuinte estadual do Paraná.
Mas voltando ao orçamento da Arena da Baixada, devido a alterações no projeto e atraso no cronograma, em dado momento, a previsão de custo aumentou de pouco mais de R$ 180 milhões para os atuais R$ 234 milhões.
Em março deste ano, quer dizer, há coisa de quatro ou cinco meses, a planilha de custos da obra da Arena da Baixada sofreu um acréscimo de R$ 24 milhões. Com este montante extra, seria possível fazer uma cobertura retrátil, que tornaria a Arena da Baixada o primeiro estádio a ter um teto cobrindo todo o gramado, fechando a arena como em um ginásio.
A alteração é aprovada, e o estádio passa a ter novo custo na Matriz de Responsabilidades da Copa, que é o documento que traz as responsabilidades assumidas em janeiro de 2010 pelas autoridades públicas brasileiras para receber a Copa do Mundo de 2014.
Cinco meses depois, vem o secretário-geral da Fifa e argumenta que não, que esse projeto colocado na obra há cinco meses vai atrapalhar, que tem que tirar ele de campo. Aceita-se a intervenção. Se por subserviência, está errado, por óbvio. Se porque Valcke tem razão, está ruim demais, por Cristo!
Há cinco meses anunciam aumento de R$ 24 milhões no orçamento da obra para incluir o custo da instalação de um teto retrátil. Há poucos dias vem o secretário da Fifa e desautoriza a alteração, porque não daria tempo. O projeto volta para trás. O orçamento, não. E segue o jogo.