Blog do Vinícius Segalla

No Hemisfério Norte é assim, no Hemisfério Sul é assado

Vinícius Segalla

O Governo do Estado da Bahia contratou um estudo junto à consultoria internacional KPMG para balizar o contrato de construção e concessão da Arena Fonte Nova, estádio em Salvador. Inicialmente orçado em R$ 591,7 milhões, o empreendimento teve custo final anunciado de R$ 689,4 milhões.

A Arena Fonte Nova foi construída 100% com dinheiro público, assim como nove dos 12 estádios que serão utilizados na Copa do Mundo de 2014. Os outros três contam com financiamentos subsidiados federais e isenções e incentivos fiscais de governos estaduais e municipais.

(A concessão da Fonte Nova é de 35 anos, às empreiteiras Odebrecht e OAS, que agora são também administradoras de estádios de futebol. O contrato de PPP (parceria público-privada) assinado entre as partes prevê que, caso a arena não obtenha o lucro mínimo previsto para cada ano, o Governo da Bahia banca 50% da diferença entre o resultado previsto e o que for obtido de fato. Mas sobre este contrato será publicado um texto específico, em um futuro próximo.)

Voltando ao estudo da KPMG, ele faz uma comparação dos modelos de custeio de arenas que foram construídas recentemente em diversos países. Veja as semelhanças e diferenças entre os empreendimentos.

1 – ALLIANZ ARENA – MUNIQUE, ALEMANHA


Sobre o equipamento: o estádio foi inaugurado no final de abril de 2005 e utilizado na Copa do Mundo de 2006. É o campo oficial do time Bayern de Munique. Tem capacidade para 66 mil pessoas e custou 340 milhões de euros, ou R$ 1.03 bilhão, em valores atuais.

Sobre o custeio da obra: foi construída com 100% de dinheiro privado.

2 – WEMBLEY – LONDRES, INGLATERRA


Sobre o equipamento: foi construído e é atualmente dirigido pela Wembley National Stadium Limited, uma subsidiária da FA (Football Association), entidade que controla o futebol na Inglaterra. Foi inaugurado em 2007, no mesmo local onde antes existia o primeiro estádio de Wembley, que foi demolido para dar lugar à nova arena.

É o segundo maior estádio da Europa, com capacidade para 90 mil pessoas, mais do que qualquer um dos estádios que está sendo construído ou reformados para a Copa de 2014. A empreitada saiu por US$ 1,08 bilhão, ou R$ 2,46 bilhões. É o mais caro estádio já construído, mas opera totalmente no azul, já que é a principal praça esportiva e de grandes eventos do Reino Unido.

Sobre o custeio da obra: foi construída majoritariamente com dinheiro privado, na seguinte proporção:

Dinheiro público
Governo federal: 19%
Prefeitura de Londres: 3%

Dinheiro privado
FA (Football Association): 22%
Fnanciamento bancário privado: 56%

3 – AMSTERDAM ARENA – AMSTERDÃ, HOLANDA


Sobre o equipamento: entregue em 1996, é o primeiro estádio multiuso da Europa. É a casa do AFC Ajax, com capacidade para 52 mil pessoas (sendo 68 mil em shows). Custou 127 milhões de euros, ou R$ 384 milhões.

Foi realizada uma parceria entre o setor privado e o poder público para a viabilização da Arena, na qual a prefeitura de Amsterdã comprou o terreno do estádio anterior do Ajax e vendeu o terreno da área destinada à construção da Arena por um valor abaixo do de mercado.

Sobre o custeio da obra: foi construída majoritariamente com dinheiro privado, na seguinte proporção:

Dinheiro público
Subsídio estatal no terreno: 4%
Prefeitura de Amsterdã: 26%

Dinheiro privado
Financiamentos bancários privados: 26%
Patrocinadores (founders): 16%
Investidores individuais: 21%
AFC Ajax: 7%

4 – CAPE TOWN STADIUM, CIDADE DO CABO, ÁFRICA DO SUL

Sobre o equipamento: construído para receber partidas da Copa do Mundo de 2010, é a casa do clube Ajax Cape Town. Tem capacidade atual para 55 mil pessoas (durante a Copa, com arquibancadas móveis, podia receber até 69 mil espectadores) e custou 4,5 bilhões de rands, ou cerca de R$ 1 bilhão.

Sobre o custeio da obra: foi construída integralmente com recursos públicos e, atualmente, é deficitária:

Governo federal: 73%
Governo estadual: 8%
Prefeitura da Cidade do Cabo: 19%

5 – ARENA FONTE NOVA, SALVADOR, BAHIA


Sobre o equipamento: concluído no final do ano passado para receber partidas da Copa do Mundo de 2014. Tem capacidade para 50 mil pessoas. Tinha custo inicial previsto de R$ 591,7 milhões, mas saiu por R$ 689,4 milhões.

Sobre o custeio da obra: foi construída integralmente com recursos públicos, pelo Governo do Estado da Bahia, com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

É isso. Cada um que tire suas próprias conclusões.