Blog do Vinícius Segalla

Pela 1ª vez, governador de MT admite que VLT não fica pronto para Copa

Vinícius Segalla

Obra do VLT de Cuiabá no mês passado; trabalhos ainda não chegaram na metade


O governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, começou nesta semana a colocar fim a uma das encenações mais evidentes da preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2014, a de que o sistema de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que está sendo construído em Cuiabá por R$ 1,477 bilhão iria ficar pronto a tempo do Mundial.

Dez em cada dez especialistas sabiam que a obra não ficaria pronta a tempo, mas esta é a primeira vez que o governador admite. Tampouco seria possível dizer outra coisa diante da atual realidade dos canteiros da empreitada em Cuiabá.

A obra – a principal intervenção urbana que está sendo feita em Cuiabá para a Copa – é de um sistema de 23 quilômetros de linhas de trem que formam o desenho de um ''Y'' na cidade. Não está nem metade pronta. Também, pudera, os trabalhos começaram somente em agosto do ano passado, sendo que o Brasil possuía um plano de mobilidade para Copa com obras e recursos disponibilizados desde janero de 2010.

Ocorre que o governo de MT decidiu, no primeiro semestre de 2011, que iria alterar seus planos de mobilidade urbana para a Copa. Desde janeiro de 2010, o projeto era para construir um sistema de BRT (corredores exclusivos de ônibus articulados), a um custo de R$ 489 milhões.

Mas, em maio de 2011, após uma viagem à cidade do Porto, em Portugal, em que participaram o governador Silval Barbosa, o então secretário da Secopa, Éder Moraes, o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, deputado José Riva, entre outros parlamentares, o governo mato-grossense decidiu alterar seus planos e a Matriz de Responsabilidade da Copa, que prevê quais obras nas cidades-sede da Copa recebem investimentos federais.

Um pedido para que a Matriz fosse alterada, sem que os recursos federais fossem suspensos (de R$ 451 milhões, via Caixa Econômica Federal), foi feito pelo governo de Mato Grosso ao Ministério das Cidades.

No órgão federal, a primeira nota técnica que avaliou o pedido de mudança do modal de transporte de Cuibá foi feita em 8 de agosto de 2011, pelo analista de infraestrutura Higor de Oliveira Guerra, que recomendou que não se atendesse ao pedido.

Segundo ele, o projeto enviado pelo governo apresentava prazos de execução e viabilidade inconsistentes com o calendário da Copa. O servidor também criticava o aumento de custo da obra, de R$ 454 milhões para cerca de R$ 1,3 bilhão.

Apesar disso, o ministério terminou por concordar com a mudança. De acordo com denúncia do Ministério Público Federal, a diretora de mobilidade urbana da pasta, Luiza Gomide de Faria Vianna, e a gerente de projetos, Cristina Maria Soja, teriam substituído a nota técnica original, contrária à mudança, por outra, favorável à proposta, e teriam adulterado a numeração da nota técnica. As servidoras foram mandadas embora do governo, mas ainda assim o Ministério das Cidades aceitou financiar a obra.

Com isso, a troca do BRT pelo VLT foi liberada, o dinheiro federal para a obra foi garantido e um novo empréstimo com a União, de R$ 750 milhões, foi negociado.

Em maio do ano passado, o processo de licitação foi concluído, tendo como vencedor o Consórcio VLT Cuiabá, que apresentou uma proposta de R$ 1,47 bilhão. Os trabalhos começaram em agosto daquele ano e teriam menos de dois anos para serem concluídos.

Assim, a obra já teve início com especialistas em engenharia civil e transporte afirmando que não haveria jeito de o sistema estar operante na Copa. Mas as autoridades insistiam que ficaria pronto, sim, até março do ano que vem.

Já na última segunda-feira, o governador Silval Barbosa deu entrevista coletiva e afirmou que, de fato, a obra está atrasada, mas que acredita firmemente que ''pelo menos um trecho (Aeroporto-CPA) será inaugurado para o Mundial''.

Assim como vêm fazendo as autoridades federais, Silval Barbosa adota a política de mudar o discurso e passar a dizer o contrário do que sempre disse. Tudo assim, como se não fosse nada.