Sem receber, empreiteira de obras da Copa no CE dá aviso prévio a operários
Vinícius Segalla
Alegando um atraso no pagamento por parte da Prefeitura de Fortaleza da ordem de R$ 39 milhões, a Serveng, empreiteira responsável pelas principais obras de mobilidade urbana em Fortaleza para a Copa do Mundo, está entregando cartas de aviso prévio para os operários que trabalham nesses empreendimentos. São dez dias de aviso prévio. É o tempo que a empresa está dando para que a cidade regularize a situação financeira das empreitadas.
Quem informa é o Sintepav-CE, o sindicato dos trabalhadores da construção pesada do Ceará. Já a empreiteira, como é praxe entre as empreiteiras, reservou-se ao direito de permanecer calada, somente divulgou uma nota oficial falando que não se pronuncia, que quem quiser saber do assunto que procure a prefeitura.
A Prefeitura de Fortaleza, por sua vez, confirma o atraso no pagamento, embora afirme que ele não ultrapasse os R$ 26 milhões. A culpa seria de “questões burocráticas” que serão resolvidas no menor tempo possível. Também seria culpa da conjuntura herdada pela atual administração. Isso está em uma nota da Prefeitura de Fortaleza. Uma nota que não diz nada, leia você mesmo no final deste post.
A Serveng responde por quatro grandes obras em Fortaleza: a construção de três corredores exclusivos de ônibus (BRTs), nas avenidas Alberto Craveiro, Dedé Brasil e Paulino Rocha, e do Eixo Via Expressa/Raul Barbosa.
A empreiteira assumiu esses trabalhos já no meio do caminho e atrasados. É que as obras estavam sob responsabilidade e execução da empresa Delta, que, em maio do ano passado, abandonou todos os contratos, em meio a uma crise financeira e política. É que a Delta teve suas atividades ligadas a escândalos de corrupção e ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Assim, a Prefeitura de Fortaleza teve que fazer novas licitações, vencidas pela Serveng, que herdou contratos no valor de R$ 235 milhões. Os trabalhos, então foram retomados em setembro do ano passado, após uma paralisação de mais de seis meses.
Apesar disso, o prazo de entrega dessas obras, oficialmente, continuou sendo agosto deste ano. Para cumpri-lo, a empresa precisaria ter imprimido um forte ritmo de trabalho, com turnos cobrindo as 24 horas do dia, desde o primeiro dia após a emissão da Ordem de Serviço. Não foi isso que ocorreu e não é isso que ocorre. Agora, ainda, corre-se o risco das obras serem novamente paralisadas por falta de pagamento.
Se a culpa é da burocracia, da Prefeitura de Fortaleza ou da gestão anterior, certamente não é daqueles que, em última instância, bancam as obras e vão bancar a Copa, os contribuintes brasileiros.
Paralisação por comida
Está certo que o governo municipal está atrasando o pagamento da empreiteira Serveng, mas as condições de trabalho a que os operários às vezes são submetidos nos canteiros da empresa sugerem que a penúria da empreiteira chega à beira da miséria.
Em junho deste ano, funcionários da obra na avenida Alberto Craveiro, uma das vias de acesso ao estádio Castelão, fizeram uma paralisação de 24 horas em protesto à qualidade da comida que era servida.
Segundo os operários, o arroz era muito duro, o feijão era cru e a água e o leite tinham gosto de cloro. A empreiteira disse que não havia nada de errado com as refeições. Deve ser verdade, peão de obra é muito fresco com comida.
Nota da Prefeitura de Fortaleza
Leia a nota da prefeitura sobre o caso.
“A Prefeitura de Fortaleza vem envidando todos os esforços administrativos para solucionar os entraves burocráticos relacionados à continuação da liberação dos recursos advindos do financiamento, os quais são sistemáticos para empreendimentos desse porte e complexidade. Nas reuniões, quase que diárias, todos os partícipes acompanham de forma clara e transparente, as evoluções e desafios relativos aos processos dessas obras. Vale destacar também o importante papel desempenhado pela Caixa Econômica Federal, agente financiador, sempre presente e colaborando com a agilização dos processos. Sobre os pagamentos, a Prefeitura já efetuou, até o momento, mais de R$ 15,8 milhões, sendo R$ 6,9 milhões oriundos do Financiamento e R$ 8,9 milhões do tesouro municipal. E relativo às medições efetuadas, ainda resta uma dívida de aproximadamente R$ 26 milhões.
Vale ressaltar a situação herdada pelo Prefeito Roberto Cláudio da gestão passada, onde havia atrasos que emperravam o andamento dos processos. Entretanto, a Prefeitura conseguiu atingir o objetivo em entregar as metas pactuadas para a Copa das Confederações. Portanto, as obras continuam em ritmo acelerado, na busca pelo cumprimento das metas e por fim, o benefício da população de Fortaleza, deixando um legado imensurável para a cidade.”