Blog do Vinícius Segalla

Arena da Baixada: R$ 99 mi mais cara, um ano de atraso e gambiarra para ficar pronta a tempo
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Vinícius Segalla

Por Tiago Dantas e Vinícius Segalla, da equipe de reportagem do UOL Esporte

Projeto da Arena da Baixada com teto retrátil. Não vai ficar pronto para Copa

O estádio do Clube Atlético Paranaense, a Arena da Baixada, está sendo reformado para receber os jogos que acontecerão na cidade de Curitiba em junho de 2014, na Copa do Mundo no Brasil.  Obra privada, recebe dinheiro das três esferas de governo. O primeiro orçamento do projeto, de 2009, era de  R$ 135 milhões.

Hoje, calcula-se um gasto de R$ 234 milhões, R$ 99 milhões a mais. Os trabalhos tiveram início em abril de 2011 e deveriam ter chegado ao fim em dezembro do ano passado.

A obra atrasou, porém. Atrasou tanto que será entregue em dezembro deste ano, um ano depois do previsto, sem estar pronta. Na semana passada, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, visitou as obras da Arena da Baixada.

Ele constatou que as obras estão 76% concluídas, a quatro meses da data de entrega, considerando as intervenções do lado de fora da arena. Preocupado com o prazo exíguo, o cartola solicitou – e foi atendido – que os responsáveis pela obra desistissem de executar o projeto da cobertura da arena.

Era um teto retrátil, que poderia fechar e abrir em menos de 15 minutos, para melhor atender ao público e ao espetáculo em dias de sol ou de chuva. ''Fizemos um pedido para adiar a construção do teto retrátil para que o estádio fique pronto para a Copa. Baseado nisso, posso dizer que o estádio ficará pronto dentro do prazo'', disse o secretário-geral da Fifa na terça-feira passada, em Curitiba.

Assim, o projeto do teto retrátil foi adiado, em seu lugar está sendo construída uma cobertura convencional que tem outubro deste ano como data de entrega. Uma cobertura planejada agora, não a que fora pensada antes da cobertura retrátil, uma cobertura que dará lugar à cobertura retrátil logo depois da Copa, uma gambiarra ao plano até então em voga. Depois do Mundial de futebol, aí sim, o Atlético Paranaense irá concluir o projeto com a cobertura retrátil, única no Brasil.

É um estádio privado, o clube de Curitiba pode alterar seu projeto de cobertura como bem entender. Muito embora existam detalhes a se considerar.  Um deles é o de que dois terços do custo da obra são dinheiro público, recursos advindos da Fomento Paraná, agência estadual, e de créditos construtivos emitidos pela Prefeitura de Curitiba.

O Atlético Paranaense, por sua vez, seria responsável por um terço do investimento na nova arena, no valor de R$ 61 milhões, quando a obra estava ainda orçada em pouco mais de R$ 180 milhões, e utilizaria dinheiro emprestado junto ao BNDES para bancar sua parte na obra.

O clube, porém, não conseguiu cumprir as exigências de garantia do banco estatal, e o empréstimo não foi liberado. A solução encontrada foi o Estado do Paraná tomar o empréstimo junto ao BNDES, para depois repassar ao clube de Curitiba, já sem exigir tantas garantias quanto o BNDES.

Você entendeu? O Atlético Paranaense está pagando só um terço do custo da reforma da Arena Baixada porque a obra é considerada de interesse público, já que garante a realização da Copa na cidade de Curitiba. O clube, então, toma emprestado dinheiro público para pagar o seu terço. Quem é o garantidor do empréstimo? O próprio poder público. Se o Atlético Paranaense não pagar o contribuinte federal pelo empréstimo que tomou, quem é que paga? O contribuinte estadual do Paraná.

Mas voltando ao orçamento da Arena da Baixada, devido a alterações no projeto e atraso no cronograma, em dado momento, a previsão de custo aumentou de pouco mais de R$ 180 milhões para os atuais R$ 234 milhões.

Em março deste ano, quer dizer, há coisa de quatro ou cinco meses, a planilha de custos da obra da Arena da Baixada sofreu um acréscimo de R$ 24 milhões. Com este montante extra, seria possível fazer uma cobertura retrátil, que tornaria a Arena da Baixada o primeiro estádio a ter um teto cobrindo todo o gramado, fechando a arena como em um ginásio.

A alteração é aprovada, e o estádio passa a ter novo custo na Matriz de Responsabilidades da Copa, que é o documento que traz as responsabilidades assumidas em janeiro de 2010 pelas autoridades públicas brasileiras para receber a Copa do Mundo de 2014.

Cinco meses depois, vem o secretário-geral da Fifa e argumenta que não, que esse projeto colocado na obra há cinco meses vai atrapalhar, que tem que tirar ele de campo. Aceita-se a intervenção. Se por subserviência, está errado, por óbvio. Se porque Valcke tem razão, está ruim demais, por Cristo!

Há cinco meses anunciam aumento de R$ 24 milhões no orçamento da obra para incluir o custo da instalação de um teto retrátil. Há poucos dias vem o secretário da Fifa e desautoriza a alteração, porque não daria tempo. O projeto volta para trás. O orçamento, não. E segue o jogo.


Para receber 4 jogos da Copa, poder público está construindo 3 estádios e um ‘campo reserva’ em Manaus
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Vinícius Segalla

O antigo Estádio da Colina; demolido para dar lugar a uma arena Fifa para 11.400 espectadores

O Governo Federal, o Estado do Amazonas e a Prefeitura de Manaus estão construindo três estádios para a Copa do Mundo de 2014, evento em que a cidade receberá quatro partidas, todas da primeira fase. Além deles, está sendo feito um campo de futebol reserva, no padrão Fifa, ''para ser utilizado no que for necessário'', segundo o governo estadual.

O principal equipamento em construção é a Arena Amazônia, a um custo de R$ 604 milhões, para 42.374 pessoas. É ali que irão acontecer os quatro jogos da Copa.

Além dela, está-se construído um novo Estádio da Colina. O original, pertencente ao clube São Raimundo, foi demolido para dar lugar à nova arena, para 11.400 pessoas, com gramado e vestiários padrão Fifa, a ser utilizada como um COT, ou Centro Oficial de Treinamento, da cidade de Manaus. Custará R$ 21 milhões, sendo R$ 9,7 milhões de verbas federais e o restante do Estado do Amazonas.

Também está sendo erguido o Estádio do Coroado, para 5.000 pessoas, na Mini Vila Olímpica, zona leste de Manaus. Também será utilizado como COT. Vai custar R$ 15 milhões e será integralmente pago pelo contribuinte amazonense, via governo estadual. As obras tiveram início nesta semana e devem seguir até fevereiro do ano que vem.

Finalmente, está sendo construído um campo com arquibancadas para 1.300 pessoas, com gramado e drenagem padrão Fifa, para deixar de reserva, caso seja necessário. Custo: R$ 3,5 milhões, por meio de convênio com o Ministério do Esporte.  A informação é da UGP, Unidade Gestora do Projeto Copa, do governo do Amazonas.

Você reparou nesse ponto? O dinheiro vem de convênio do governo estadual com o Ministério do Esporte. Ou seja, este é mais um caso de dinheiro público federal sendo colocado em estádios de futebol para a Copa não através de financiamentos do BNDES, contrariando o que afirmou em pronunciamento oficial a presidente Dilma Rousseff durante a Copa das Confederações, de que não há dinheiro federal em estádios da Copa, a não ser empréstimos do BNDES. Este é mais um caso. Porque tem outros.

O futuro Centro de Treinamento da Colina, do São Raimundo, feito com dinheiro público

Campo de treino ou estádio?

Voltando a Manaus, há que se explicar o que são esses estádios que estão sendo erguidos além da Arena Amazonas, os COTs, ou Campos Oficiais de Treinamento. Pela carta de compromissos que as cidades-sede assinaram com a Fifa para receber a Copa, elas são obrigadas a oferecer pelo menos dois campos oficiais de treinamento com algumas especificações, tais como gramado e vestiários semelhantes aos dos estádios da Copa e proximidade aos hoteis onde estarão as seleções.

Na Copa de 2006, na Alemanha, todos os COTs eram privados, de clubes ou associações, nada foi construído pelo poder público só para ser usado como campo de treino durante a Copa. No Brasil, alguns COTs serão privados, como deverá ser a Arena Grêmio, em Porto Alegre, se escolhida como COT. Já em Manaus, ou a iniciativa privada não se interessou em investir em tais estruturas, ou o poder público tomou-lhe a frente.

O Governo do Estado do Amazonas justifica seu investimento nos campos de futebol com dois argumentos. O primeiro é o de que os estádios estão sendo construídos por uma necessidade de Manaus para tonar-se sede da Copa. De acordo com a UGP, a Fifa exige que os COTs tenham, além de tribuna de imprensa, uma capacidade para receber, no mínimo, 2.000 torcedores.

Ainda que assim fosse, tal fato não explicaria o motivo de os estádios que estão sendo construídos serem para 11.400 e 5.000 pessoas. Na última sexta-feira, porém, este blog perguntou ao COL (Comitê Organizador Local da Copa-2014) quais eram as especificações dos COTs exigidos das cidades-sede. Eis a resposta:

''As orientações relativas aos Campos Oficiais de Treinamento (COTs) passadas pelo Comitê Organizador Local (COL) às sedes da Copa do Mundo da FIFA visam oferecer as melhores condições possíveis para as equipes. A qualidade do gramado, com condições semelhantes às encontradas nos estádios, o tempo de deslocamento até os hotéis oficiais, a infraestrutura de vestiários e as instalações para a imprensa estão entre os principais requisitos. A capacidade de público desejável dos COTs é de no mínimo 500 pessoas'' (grifo do blog).

O antigo Vivaldão: construído em 1972, reformado em 1995 e 2006 e demolido em 2010

Manaus precisa desses estádios?

Por que, então, construir dois novos estádios em Manaus, um para 11.400 e outro para 5.000 pessoas? É aí que entra a segunda justificativa do Governo do Estado do Amazonas.

De acordo com o governador Omar Aziz, depois da Copa, todas as estruturas ficarão à disposição do futebol do Amazonas, podendo ser utilizadas nos campeonatos oficiais disputados pelos clubes do Estado.

O Campeonato Amazonense deste ano contou com dez clubes de futebol e teve média de público inferior a 500 pagantes por jogo. A partida da final disputada em Manaus contou com menos de 3.000 torcedores.

A cidade precisa mesmo de todas as estruturas que as autoridades públicas estão construindo sob a justificativa de legado da Copa? Não, não precisa. Não se for levada em consideração a história do futebol amazonense, pontilhada por construções, reformas e abandono de suas praças esportivas, sempre à custa de dinheiro público.

Veja o exemplo da Arena Amazônia, que será utilizada na Copa. Ela está sendo construída no local onde antes existia o estádio Vivaldo Lima, ou Vivaldão.

Concluído em 1972, o estádio tinha capacidade oficial para 43 mil pessoas, mas chegou a receber 56 mil. Em 1995, passou por uma grande reforma, recebeu sistema de som importado da Bélgica, catracas eletrônicas e um sistema de irrigação e drenagem automático.

Em 2007, passou por outra reforma, novamente custeada com dinheiro público, e recebeu placar eletrônico. Além disso, o estádio tinha tido sua fiação elétrica de cobre furtada, e o sistema de refletores foi também reformado.

Depois dessa ultima reforma, a seleção brasileira nunca jogou lá. Também nunca teve lotação máxima. Os dez jogos de maior público no Vivaldão
aconteceram todos até 1999, quando 55 mil pessoas foram assistir a São Raimundo e Fluminense, pela Série C do Campeonato Brasileiro.

Então, em 2009, dois anos após a última reforma, decidiu-se que a arena teria que ser totalmente demolida para dar lugar a um novo estádio, padrão Fifa, a Arena Amazônia, integralmente bancado pelo poder público, Governo Federal e Estado do Amazonas. A empreiteira Andrade Gutierrez toca a obra. A previsão atual de custo é R$ 604 milhões, R$ 89 milhões a mais do que inicialmente.

Agora, atente para o segundo equipamento em construção, o Estádio da Colina, ou Ismael Benigno, que já existia, mas que foi, assim como o Vivaldão, demolido para que se pudesse construir um novo estádio do zero.

É o mais antigo campo profissional de futebol do Estado. Pertence ao São Raimundo e foi inaugurado em 1952, em terreno público doado ao clube pelo então governador do Amazonas, Plínio Coelho.

A partir da inauguração do Vivaldão, em 1972, o Estádio da Colina caiu em franco desuso e deterioração. Os outros clubes da cidade começaram a jogar no estádio público, o São Raimundo não conseguiu manter o equipamento viável economicamente apenas com seus próprios jogos.

A arena perdeu o alambrado, o gramado se deteriorou e parte dos refletores pararam de funcionar. No ano 2000, o Estádio da Colina passou por reforma e modernização, custeada com recursos públicos.

São colocados mil assentos nas arquibancadas cobertas, As seis cabines de rádio são reformadas. Anuncia-se a instalação de um dos melhores sistemas de iluminação do mundo, com quatro torres e 35 refletores em cada. O vestiário do São Raimundo ganha banheira de hidromassagem e dez chuveiros.

Ao longo dos últimos dez anos, o equipamento, por falta de uso, novamente se deteriora. Deteriora-se ao ponto de, segundo o governo estadual, ter que ser completamente demolido para que uma nova e moderna arena possa ser construída, para ser utilizada como campo de treino durante a Copa e ser entregue depois nova em folha ao São Raimundo.

Quase metade dos R$ 21 milhões do custo da obra foram obtidos através de emenda ao Orçamento da União e chegam aos cofres amazonenses via convênio com o Ministério do Esporte.

Dinheiro do Orçamento da União. Sendo usado em estádio de treino da Copa. Viu, presidente?


Corintiano que vai a pé do RJ ao Itaquerão passa noite andando na estrada para suportar o frio
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Vinícius Segalla

Rodrigo vai passar nove dias andando na Dutra, comendo em postos de gasolina


O corintiano Rodrigo Parente, 32, que está no meio de uma viagem de nove dias a pé do Rio de Janeiro ao estádio que o Corinthians está construindo no bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo, tem passado maus bocados em sua epopeia. A longa caminhada teve início na manhã do último domingo. Desde então, ele já percorreu 110 quilômetros, passou uma noite em claro sem parar de andar para poder suportar o frio, já dormiu no chão duro de posto de gasolina e criou bolhas nos pés e dores nas costas e pernas.

A viagem é para pagar uma promessa por ter conseguido assistir ao primeiro jogo da final da Copa Libertadores do ano passado, entre Corinthians e Boca Juniors, em Buenos Aires, após ter sido preso na Argentina menos de 48 horas antes do início da partida. Este blog contou a história do corintiano pagador de promessa no último dia 14.

Rodrigo, ou Língua, como é conhecido por seus amigos, percorreu 45 quilômetros em seu primeiro dia de viagem. No segundo, enfrentando a Serra das Araras, andou 25 quilômetros. A promessa determina que a viagem deve ser feita da maneira mais humilde possível. Ele não leva cobertor, apenas produtos de limpeza pessoal, um par extra de tênis, calça e camiseta extra, água, telefone celular e câmera fotográfica.

O torcedor está sendo salvo pela solidariedade dos corintianos e daqueles que acompanham a saga do Língua pelo Facebook. Na noite de domingo para segunda-feira, ele dormiu no chão de um posto de gasolina, com um frio de gelar a alma. ''Porra, e num é que veio um mendigo e me deu um agasalho? Você acredita num negócio desses?'', indaga Rodrigo, emocionado.

Já na manhã seguinte, na segunda-feira, ele estava com fortes dores nos pés em virtude de bolhas que se formaram. Então, escreveu no Facebook: ''Hj esta mto sofrido é o meu segundo dia e as bolhas no meu pé estão doendo demais…. Estou andando devagar faltam 3 km para serra…. Obrigado a todos pelo apoio. Peço para quem mora por aqui me ajudar dando um apoio… Obrigado a tds''. Cerca de duas horas depois, seus amigos Rafa e Rafael aparecem na estrada. ''Eles leram minha mensagem, ligaram para um médico, que receitou uma pomada, e vieram me trazer. Se não fosse isso, eu não estaria conseguindo andar'', conta o pagador de promessa.

Ainda bem que levaram a pomada, porque o corintiano vem andando sem dormir desde a manhã da segunda. É que na noite de ontem para hoje ele não conseguiu dormir, porque estava muito frio, mesmo com a blusa do mendigo. ''Então, não parei de andar. O que me dá força são as mensagens dos corintianos, me apoiando. Além disso, dois repórteres de um jornal do Rio andaram comigo por seis horas'', contou Língua na tarde de hoje, quando já estava há mais de 30 horas sem dormir, andando na Via Dutra.

O torcedor irá passar pelo município de Aparecida, onde irá até a Basílica da cidade, o que é parte da promessa. Depois, seguirá até o Itaquerão, onde espera poder entrar e terminar sua jornada no gramado recém-plantado do estádio em obras do Corinthians. Veja, abaixo, imagens de Rodrigo Parente em sua viagem.

Rodrigo Parente em uma tentativa frustrada de dormir ao relento. Não deu, ele não aguentou o frio


 

O corintiano sobe a Serra das Araras


 

Em um momento de descanso, Rodrigo chama a atenção dos funcionários da Via Dutra


Acesso a novo aeroporto de Natal será por estrada de terra durante a Copa
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Vinícius Segalla

A cidade de Natal terá um novo aeroporto a partir de abril do ano que vem. Trata-se do terminal São Gonçalo de Amarante, cujas obras de construção vinham se arrastando desde 1995 até o ano passado, quando foram transferidas para a iniciativa privada (Consórcio Inframérica). Pelo contrato assinado entre governo federal e consórcio, ele só precisara ficar pronto dois meses após a Copa. Mas o investidor privado concordou em se responsabilizar a entregar o empreendimento até abril de 2014, para que pudesse ser utilizado durante o Mundial de futebol, que terá início em junho daquele ano.

O consórcio garante que entregará a obra tempo, e diz que fez, até agora, pouco mais de 40% da obra. Só o que não estará pronto, a seguir o ritmo atual de trabalho, são os acessos viários ao aeroporto, cujas obras, orçadas em R$ 72 milhões, tiveram início na semana passada. São dois corredores que totalizarão 37 quilômetros de via asfaltada.  Por enquanto, não há nada nem perto disso, apenas trabalhos de topografia estão sendo realizados.

A cargo do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, as obras de acesso ao terminal já tiveram um cronograma com tempo de sobra para ser cumprido até antes da Copa. A primeira licitação foi concluída em 2009, vencida pela empreiteira Queiroz Galvão. Custaria R$ 16 milhões, com financiamento federal.

Até o início deste ano, porém, os recursos anda não haviam sido liberados, o que fez com que a empreiteira exigisse um aditivo contratual para fazer a obra a tempo. O governo estadual disse não. De forma amigável, foi desfeito o contrato. Uma nova empresa, então, tomou o lugar da Queiroz Galvão no mês passado, a EIT Engenharia. Novo custo da obra, que sofreu alterações e ampliações em relação ao projeto inicial: R$ 72 milhões.

A promessa é que a obra seja entregue no início de junho do ano que vem, poucos dias antes da Copa, embora mal tenha começado. A realidade, entretanto, já vem alterando os planos. Autoridades potiguares anunciaram na semana passada que estão demandando os máximos esforços para entregar pelo menos um dos corredores viários a tempo da Copa.

Ainda assim, será difícil. Difícil ao ponto de o consórcio Inframérica informar que, depois de ter investido na aceleração das obras no aeroporto para entrega-lo a tempo da Copa, irá exigir o reequilíbrio econômico-financeiro previsto em contrato por não poder operar a partir do período combinado. É que o contrato firmado entre a empresa e o governo federal previa que o aeroporto deveria entrar em funcionamento imediatamente após sua inauguração. Isso já não vai ocorrer, visto que a previsão de entrega atual do terminal é abril de 2014.

A Inframérica venceu leilão para terminar de construir e operar o São Gonçalo do Amarante por R$ 170 milhões, um ágio de 228% em relação ao valor original. Ao todo, o investimento anunciado do Brasil no terminal é de R$ 410 milhões, sem contar o que já foi gasto de 1995 para cá para construir a pista de pouso. Com os atrasos e a iminente necessidade de reequilíbrio contratual, é certo que custará mais do que isso.

Para José Antunes Sobrinho, presidente da Inframérica, ''a situação é surreal''. Segundo ele, o governo potiguar ''é quem está com a corda no pescoço. Nós iremos inaugurar o aeroporto no prazo''.

Inaugurar o aeroporto com acesso somente por estrada de terra é impensável. Pelas vias existentes hoje em dia, o trajeto do terminal à zona hoteleira da cidade leva 71 minutos, mais de duas horas. Qual é a solução? Trabalhar com a hipótese de utilizar o aeroporto já existente em Natal, o Augusto Severo. Ou seja, depois de acelerar e aumentar o custo das obras e dos contratos para tornar viável a inauguração do Aeroporto São Gonçalo do Amarante a tempo para a Copa, aeroporto este que vem sendo construído há quase 20 anos, investe-se agora em obras que servem para viabilizar o uso durante a Copa do antigo terminal da cidade.

Para tanto, obras no Augusto Severo estão sendo feitas, com recursos federais e condições especiais para as empreitadas que devem ficar prontas a tempo do torneio de futebol de 2014. A última intervenção concluída foi a ampliação do sistema de embarque, com a aquisição de novos aparelhos de raio-x.

A Infraero entregou, há um ano, obras de modernização do aeroporto Augusto Severo.O custo anunciado foi de R$ 16,4 milhões e contemplaram a reforma dos toaletes, novas salas de embarque e desembarque, instalação de novos elevadores e escadas rolantes na parte interna do desembarque, a instalação de 12 novos balcões de check-in e até a construção de um fraldário.

Segundo a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, o empreendimento é importante ''para a recepção dos turistas que visitam o estado, ainda mais com a aproximação dos grandes eventos, como o Mundial de 2014''.

Ou seja, tacitamente, já se sabe que, durante a Copa, a desfeito dos esforços físicos e materiais feitos às custas do dinheiro público, não haverá novo aeroporto em Natal operando a tempo da Copa. Se houver, terá sido gasto milhões em dinheiro público para melhorar um aeroporto que será desativado logo após a inauguração do novo terminal.

Então, ficamos assim: para entregar o novo aeroporto de Natal a tempo da Copa, o poder público está investindo cerca de R$ 500 milhões em obras aceleradas de construção e acesso ao terminal. Mas, como ele não deverá ficar pronto a tempo, investiu-se outros R$ 16, 4 milhões no aeroporto antigo, como um plano B. E as obras não vão parar por aí. Na semana passada, goteiras e problemas estruturais foram detectados no terminal, que terá que passar por nova reforma.

E o pior vem agora: o Aeroporto Augusto Severo será desativado após a inauguração do São Gonçalo do Amarante, todos os recursos investidos servem apenas para que ele seja utilizado até a Copa, depois disso, de nada adiantarão. Para Fernando Nicácio, superintendente regional da Infraero no Nordeste, porém, o investimento não será inútil. obras como ampliação de check-in e construção de fraldário serão úteis após a Copa. ''Esse aeroporto deve deixar de operar viação comercial, mas existem várias opções para utilizar esse espaço no futuro, não só no segmento da aviação, mas como indústria aeronáutica; centro de distribuição logística; uma grande universidade; um centro atacadista''. Então, tá.

 

 


Principal obra de “legado” da Copa em BH está R$ 115 milhões mais cara e 20 meses atrasada
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Vinícius Segalla

A principal obra de mobilidade urbana constante no plano oficial da cidade de Belo Horizonte para a Copa do Mundo de 2014 é um corredor exclusivo para ônibus (chamado de BRT) de 16 quilômetros e 25 estações que ligará a região do aeroporto à zona hoteleira da cidade, passando pela região do estádio do Mineirão. É a Linha Antonio Carlos/Pedro I.

O plano e a promessa inicial de governo federal e Prefeitura do Município de Belo Horizonte era investir R$ 588,2 milhões na obra e concluir os trabalhos até setembro de 2012, de acordo com a versão original da Matriz de Responsabilidades da Copa, compromisso assinado em janeiro de 2010 por autoridades brasileiras contendo o plano de obras a serem realizadas até  junho de 2014.

Uma série de aditivos contratuais e uma paralisação de dois meses ordenada pela prefeitura em janeiro deste ano, porém, frustraram os planos iniciais. Agora, a obra está orçada em R$ 703 milhões, ou R$ 115 milhões a mais do que o orçamento inicialmente previsto. Detalhe: o valor da empreitada não inclui os ônibus que irão correr pelo sistema. A licitação para comprar os veículos ainda não aconteceu.

Já sua conclusão, que deveria ter sido a tempo de o sistema ter sido usado e testado durante a Copa das Confederações, em junho deste ano, foi remarcada para 14 de maio de 2014, um mês antes da Copa.

Obras desse porte costumam passar por um período de operação assistida, quando o sistema é posto para funcionar em fase de testes, para a detecção de falhas e treinamento dos operadores. Tais períodos dificilmente são inferiores a 60 dias, sendo o mais comum durarem de 90 a 120 dias. No caso de Belo Horizonte, caso a obra não atrase um dia a mais dos 20 meses que já atrasou, tal fase de testes será no máximo de um mês até o início da Copa.

Todas essas informações constam no ambiente nada transparente do Portal da Transparência, site mantido pelo governo brasileiro para que a população possa acompanhar a evolução física, financeira e contratual dos projetos da Copa. Está tudo aqui. A linha de BRT está sendo construída em módulos, há 11 contratos regindo a totalidade dos trabalhos, alguns deles já possuindo dois ou três aditivos.

Cada um dos subprojetos vive uma realidade diferente e possui diferentes motivos para não estar no prazo. Mas um motivo une todos os atrasos. Inicialmente, a obra foi pensada para ocorrer através de apenas um processo licitatório. Um projeto básico da obra começou a ser montado em janeiro de 2009, ainda antes da Matriz de Responsabilidades ter sido assinada, mas depois de o Brasil já ter sido escolhido como sede da Copa de 2014.

A ideia era que as obras pudessem ter tido início em junho de 2010. Mas, posteriormente, optou-se por contratações em separado por trechos e tipos de tarefas envolvidos na empreitada, o que levou à necessidade de revisão do projeto. Resultado: as licitações só começaram em 2011, e as obras pegaram mesmo a partir do ano passado.

Neste ano, quem visitou BH durante a Copa das Confederações, como este repórter, viu muito bem o canteiro da obras do BRT cortando a cidade. Nas manifestações que ocorreram na capital mineira durante o torneio de futebol, pedras, entulhos e ripas da obra na principal avenida que liga o centro de BH ao Mineirão foram feitos de armas por uma minoria violenta que aderiu aos protestos.

Outro fator que atrasou a obra foram os processos de licitação. A prefeitura contava concluir tudo até agosto do ano passado. No fim de janeiro deste ano, porém, as autoridades tiveram que emitir ordem de paralisação da obra que demorou 59 dias, uma vez que os processos de desapropriação não estavam se resolvendo como o previsto.

Assim, a realidade atual é que o sistema estará pronto a um mês da Copa caso não atrase mais um dia sequer. Isso para ter início a fase de testes. Isso considerando que os ônibus que irão rodar no sistema serão licitados e postos em operação a tempo. Se nada disso ocorrer, há sempre a hipótese de decretar feriado nos dias de jogos da Copa, possibilidade legalmente prevista nas normas aprovadas pelo Brasil para receber a Copa. O show tem que continuar.

 


Infraero responde
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Vinícius Segalla

A Infraero enviou nota a este blog nesta quinta-feira, em resposta ao post ''Obra de R$ 346 mi em aeroporto no RS atrasa três anos, e só 'puxadinho' ficará pronto para a Copa''.

''Boa noite, Vinícius. Tudo bem?

Segue o esclarecimento sobre as etapas da ampliação do terminal de passageiros de Porto Alegre.

As obras serão divididas em duas etapas: a primeira, com conclusão até maio de 2014, vai ampliar as salas de embarque e desembarque doméstico, que passarão de 2,8 mil m² para 6,2 mil m² e as pontes de embarque, que passarão de 10 para 12. Outros equipamentos também vão aumentar de número. Escadas rolantes passarão de sete para 13, os elevadores de nove para 15 e os balcões de check-in de 52 para 70.

Mesmo operando dentro de sua capacidade – recebeu 8,2 milhões de passageiros em 2012, numa estrutura para 13,1 milhões – a primeira etapa deixará o Salgado Filho apto a receber 18,9 milhões de embarques e desembarques por ano.

Já a segunda e última etapa, que deverá ser concluída em 2016, vai deixar o Aeroporto Salgado Filho com as salas de embarque e desembarque (doméstico e internacional) com 14,9 mil m², além de 14 pontes de embarque; 99 balcões de check-in, 19 escadas rolantes e 24 elevadores.

Atenciosamente,

Assessoria de Imprensa da Infraero''

 


Obra de R$ 346 mi em aeroporto no RS atrasa 3 anos, e só “puxadinho” ficará pronto para Copa
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Vinícius Segalla

*Atualizado às 18h05

O Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, foi contemplado com projeto de reforma e ampliação de suas instalações visando a Copa do Mundo de 2014 em julho de 2010. Um acordo foi estabelecido entre governo federal, Governo do Estado do Rio Grande do Sul e Prefeitura de Porto Alegre para a execução de uma obra de orçamento de R$ 346 milhões, com início marcado para junho de 2011 e término em junho deste ano.

Atrasou um pouco. Em junho deste ano, na verdade, o que aconteceu foi o início do processo de licitação para a obra. A empresa vencedora apresentou, na semana passada, a planilha de execução financeira à Infraero, estatal que administra os aeroportos brasileiros e é responsável pelo plano nacional de ampliação do sistema.

O contrato deverá ser assinado nos próximos dias, e tem prazo de entrega de 930 dias a partir da assinatura da primeira ordem de serviço, o que ainda não ocorreu. Ou seja: a conclusão da obra se dará, na melhor das hipóteses, em 2016, ou três anos depois da previsão inicial.   

Mas e para a Copa do Mundo, o que fazer? Afinal, o projeto prevê uma ampliação na capacidade do aeroporto dos atuais 13,1 para 18,9 milhões passageiros por ano, pelo menos parte dessa ampliação será necessária até a Copa. Sobre este ponto, a Infraero esclarece que a previsão de demanda do aeroporto gaúcho para 2014 é de 11,7 milhões, absorvível, portanto, pela atual capacidade do terminal. Isso não significa, porém, que para o momento de demanda de pico da Copa, a estrutura atual seja suficiente. 

E tem outra, pelo excessivo atraso, foi necessário licitar a obra sob as regras do RDC, ou Regime Diferenciado de Contratação, mecanismo normativo criado em 2011 através de medida provisória para flexibilizar as regras das licitações públicas para as obras da Copa. Então, até para justificar esse tipo de contratação, é bom que alguma coisa fique pronta até o Mundial de 2014.

A solução que a Infraero encontrou foi dividir a obra em duas fases. A primeira, que deverá ter início no mês que vem, tem prazo de conclusão para maio de 2014. Trata-se da operacionalização de uma estrutura modular que fará as vezes de um novo terminal de passageiros.

Ele não tem ligação com o saguão principal do Salgado Filho, é feito com estruturas modulares montadas com chapas de aço e concreto, como as utilizadas em pavilhões de feiras e eventos, o chamado ''puxadinho''. Além disso, prevê-se a construção de novos banheiros e a instalação de novos sistemas mecânicos, elétricos e telemáticos.

Com o improviso, será possível montar um terminal para receber os passageiros de voos fretados. A projeção é de que a capacidade do aeroporto suba em 2,3 milhões de passageiros por ano. O projeto prevê a construção de um corredor que ligue física e operacionalmente o terminal modular ao prédio principal do aeroporto, mas é possível que não fique pronta a tempo da Copa. Neste caso, a ligação será feita de ônibus.

O custo total da empreitada até 2016 está orçado na casa dos R$ 350 milhões. O projeto não inclui a ampliação da pista de passageiros e do terminal de cargas, projetos esses que estavam previstos no orçamento inicial da obra, de 2010. A previsão é que só a construção da pista saia por mais R$ 400 milhões. O processo de licitação nem começou.  

 


Corintiano irá a pé do Rio a SP para cumprir promessa por ter visto jogo na Bombonera
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Vinícius Segalla

O corintiano Rodrigo Parente, para quem nada é impossível

O corintiano Rodrigo Parente, 32, irá iniciar no próximo domingo uma viagem de nove dias a pé do Rio de Janeiro, onde mora, até o estádio que o Corinthians está construindo no bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo. No caminho, passará pela cidade de Aparecida, para visitar a Basílica da cidade.

O motivo é o pagamento de uma promessa, feita por Rodrigo à Nossa Senhora Aparecida em junho do ano passado, para que alcançasse a graça de assistir à primeira partida da final da Copa Libertadores da América do ano passado, disputada por Corinthians e Boca Juniors no dia 27 daquele mês.

O trajeto será feito em absoluta solidão, sem nenhum amigo ou parente dando qualquer tipo de suporte. Ele dormirá todas as noites em postos de gasolina, no chão batido, sem cobertor ou qualquer conforto. Em sua bagagem, levará apenas um par extra de tênis, barbeador, escova e pasta de dentes, um agasalho do Corinthians, um par de meias, um desodorante para os pés, uma camiseta e uma calça.

Também não irá comer carne vermelha nem beber refrigerante ou cerveja. Será uma viagem espartana. Seu único luxo será um telefone celular, para tirar fotos e ser utilizado em uma eventual emergência.

''Pois é, a promessa é exigente, mas tinha que ser. Na hora que eu fiz, eu achava que não tinha a menor chance de eu assistir a essa partida, e eu já tinha sofrido tanto… Então a promessa foi dura. E não é que deu certo?''

De fato, nas circunstâncias em que a promessa foi feita, poucos apostariam que Rodrigo conseguiria ver o seu Corinthians na Bombonera. Faltavam cerca de 30 horas para o jogo, e Rodrigo encontrava-se preso em nome da lei, sem lenço sem documento, na cidade de Passo de Los Libres, na fronteira do Brasil com a Argentina, a mais de 600 quilômetros de Buenos Aires.

Mas Rodrigo é um homem de fé. De fé e fiel. Quando o clube de seu coração se classificou para a final da Libertadores da América contra o Boca Juniors, em junho do ano passado, ele tratou de comprar  no dia seguinte a sua passagem para Buenos Aires, para assistir à primeira partida da decisão, no dia 27 daquele mês. Não conseguiu comprar o ingresso para o jogo, mas iria de qualquer jeito, e fosse o que Deus quisesse.

Mas tudo deu errado a partir dai, ou quase tudo. A passagem era para o dia 25 de junho, do Rio de Janeiro para a capital argentina. Rodrigo foi embarcar no Aeroporto do Galeão portando um só documento, a carteira de motorista. Mas, na manhã do dia 25, no aeroporto, foi informado que só é possível viajar para o país vizinho portando passaporte ou RG.

Começou então a improvável saga do corintiano. Não havia tempo para tirar um novo RG, e Rodrigo havia perdido o seu. Desistir não era uma opção. Então, o corintiano resolveu trocar sua passagem de Buenos Aires para Porto Alegre. De lá, pegou um ônibus de 12 horas para Uruguaiana, cidade gaúcha na fronteira com a Argentina.

Rodrigo chegou ao município fronteiriço no início da tarde do dia 26 e conheceu um taxista. ''Ele me disse que seria impossível atravessar a fronteira até a cidade argentina de Paso de Los Libres sem portar RG ou passaporte''.

Sem nem pensar em desistir, ele perguntou se não haveria um método menos ortodoxo de cruzar a divisa. Este lhe disse que, durante a madrugada, apenas um agente policial argentino ficava no posto, e que se ele tentasse cruzar a fronteira longe da ponte que fornece o acesso oficial, talvez tivesse uma chance.

Era isso ou nada. Rodrigo, então, esperou até a madrugada para partir em sua missão de invadir a Argentina pelo mato. ''Achei que estava indo bem, mas quando estava chegando perto de uma rua asfaltada, fui parado ela polícia. Me levaram preso para o posto da fronteira''.

O policial, que não estava dormindo, era enérgico e justo. Não dava nem margem para oferta de propina. Era cadeia e deportação. Faltavam pouco mais de 24 horas para o jogo. Momento desespero, minha Nossa Senhora Aparecida, me ajuda, eu vou a pé do Rio até Aparecida, sem luxo, sem cama, sem carne e sem cerveja, eu prometo, mas preciso assistir a esse jogo.

Rodrigo fez a promessa, mas não parou por ai. Ele explicou tudo o que estava acontecendo ao policial, em portunhol fluente. Falou, chorou, implorou. ''Eu disse para ele que tudo o que eu queria era assistir a um jogo de futebol, era o Corinthians na final!''

O policial era torcedor fanático do Boca Juniors. Ele sabia muito bem da importância daquela partida. ''Ele ficou com dó de mim e resolveu dar um jeitinho. Ele me liberou, disse para que eu voltasse para o Brasil no dia seguinte ao do jogo e me desejou boa sorte, mas não muita, porque torcia para o Boca''.

Então, o brasileiro, já um imigrante ilegal na Argentina, caminhou até a rodoviária de Paso de los Libres e lá chegou por volta das 2h da manhã da madrugada do dia 27, data do jogo. O próximo ônibus para Buenos Aires, distante 677 quilômetros, sairia somente às 4h30.

Nesse ínterim, tentou dormir um pouco nos bancos da estação. Dois policiais acharam o elemento surpreso e foram aborda-lo. ''Quando eles viram que eu não tinha passaporte nem RG, quiseram me deportar''. Novo desespero, nova negociação, novo final feliz. O corintiano pegou o ônibus, sentiu o frio na barriga ainda uma vez mais, quando o coletivo passou por uma batida policial, mas finalmente chegou a Buenos Aires, no início da noite, e sem ingresso.

Tentou comprar nas imediações do estádio, mas não conseguiu. Achou caro os que lhe ofereceram ou ficou com medo de adquirir ingresso falso. Depois de toda a epopeia, o jogo começava na Bombonera e Rodrigo assistia ao Corinthians em uma TV de 20 polegadas em um boteco no bairro da Boca.

Foi neste momento que a reportagem do UOL Esporte conheceu o corintiano de fé. Eu trabalhava de repórter na partida, minha missão era acompanhar os desafortunados torcedores que tinham ido até Buenos Aires mas não tinham conseguido entrar no estádio. Havia cerca de uma centena deles em volta da TV do boteco da Boca.

Após toda a saga sem final feliz, Rodrigo me contava a sua história sem pesar, ''Vai Corinthians!'', mostrando irritação apenas quando o Corinthians errava um passe ou o juiz deixava de marcar uma falta, ou ainda quando lhe tapavam a visão da TV.

O fim do primeiro tempo se aproximava, junto com o término, até aquele momento, da história de Rodrigo. Em dado minuto, porém, ouviu-se um grito vindo de um torcedor que voltava correndo do último e atrasado ônibus da Gaviões da Fiel que chegava à Bombonera. O coletivo tinha ficado parado no trânsito portenho, então mais tumultuado que de costume por causa de uma greve de caminhoneiros. Havia um ingresso a mais, e este gavião de fina pluma, que já ouvira a história de Rodrigo sendo contada e recontada por muitas bocas alvinegras, sentenciou: aquele ingresso seria dele, Rodrigo. Minha Nossa Senhora Aparecida!

Como se sabe, o Corinthians empatou aquela partida em 1 a 1, com gol de Romarinho, de primeira, no primeiro toque que de na bola ao entrar na partida, no segundo tempo. O clube brasileiro foi campeão da Libertadores e depois campeão do mundo, em Tóquio. Rodrigo estava lá, ''a maior emoção da minha vida''.

Agora, chegou a hora de pagar a promessa. ''Para Nossa Senhora, prometi que ia só do Rio até Aparecida. Mas depois o Corinthians foi campeão mundial, e amo o Corinthians, então decidi que vou a pé até a porta do Itaquerão. Mas meu sonho mesmo é que o Corinthians deixe eu entrar no estádio (que está em obras), para que eu termine a caminhada dentro do nosso campo. Mas meu sonho mesmo, MESMO, é que eu ainda seja recebido pelo ex-presidente Lula, que é corintiano e lutador que nem eu, e que eu possa dar um abração nele, se Deus quiser''. Que Deus queira, Rodrigo.

P.S. Para quem quiser conhecer o corintiano pagador de promessas, aqui está a sua página no Facebook.

 


Autoridades federal e estadual respondem sobre plano de obras no Amazonas
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Vinícius Segalla

O Governo do Estado do Amazonas divulgou na última segunda-feira uma nota à imprensa em réplica às informações divulgadas por este blog no post ''Projeto original fracassa e políticos criam novo plano de obras para Manaus a 10 meses da Copa''. As autoridades estaduais confirmam que o projeto inicial não está mais programado para terminar a tempo da Copa, mas sim a partir de 2015. Também afirmam que a culpa pelos atrasos é do governo federal, que não liberou os recursos para a obra.

Já o ministro do Esporte, Aldo Rebello, nesta terça-feira, foi indagado no Senado Federal sobre o plano de obras de Manaus para a Copa. Veja o que ele disse, em reportagem de Aiuri Rebello, da sucursal de Brasília do UOL.

 

''Eu sabia que isso ia acontecer'', diz ministro sobre fracasso em obras de Manaus

Aiuri Rebello
Do UOL, em Brasília

Questionado por senadores durante sabatina na Subcomissão Permanente da Copa de 2014 do Senado sobre a revelação do UOL Esporte de que o projeto para obras de mobilidade urbana em Manaus falhou e foi refeito a 10 meses do Mundial, o ministro do Esporte afirmou que ''sabia que isso ia acontecer''. ''Já achava que isso ia acontecer. Não recebi nenhum relatório oficial, mas sabia dos problemas que as obras por lá enfrentavam, principalmente por falta de recursos federais e problemas de licenciamento ambiental nos projetos'', disse Aldo Rebelo.

''Acredito que por isso foi lançado este novo plano de obras. O governo e a Prefeitura de Manaus contam com todo o nosso apoio para levar a cabo este novo plano'', afirmou Rebelo.

O ministro afirmou ainda que o cronograma de execução das obras  na Arena Amazônia e na Arena Pantanal, em Cuiabá, preocupa do governo. Apesar disso, o ministro acredita que é possível compensar os atrasos no final do projeto. ''A parte elétrica pode ser feita junto com a hidráulica, por exemplo, e outros ajustes como este são possíveis'', disse Rebelo.

Manaus, uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014, possuía um dos mais avançados planos de obras de mobilidade urbana entre as cidades que irão receber o mundial de futebol, aprovado em janeiro de 2010.

Até esta segunda-feira, porém, as duas principais intervenções previstas no projeto, cujo orçamento somado estava na casa dos R$ 2 bilhões, ainda não haviam saído do papel. Para resolver a questão, propõe-se, a dez meses da Copa, um plano alternativo, que custará mais R$ 1 bilhão, com dez obras, estas sim com possibilidade de estarem concluídas a tempo.


Governo de PE usará dinheiro público para garantir lucro de consórcio com estádio por 30 anos
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Vinícius Segalla

O Governo do Estado de Pernambuco vai utilizar recursos públicos para garantir que a empreiteira Odebrecht obtenha lucro na operação da Arena Pernambuco por 30 anos, até 2043, quando termina o contrato de PPP (parceria público-privada) entre o Estado e a empresa, que construiu e administra o estádio que foi construído para a Copa do Mundo de 2014.

Sucessivas alterações contratuais feitas de 2010 até hoje, porém, tornam impossível saber quanto isso vai custar para o contribuinte pernambucano.

Isso porque o contrato original estabelecido entre as partes em junho de 2010 previa uma projeção de receita para arena de R$ 73 milhões por ano a ser obtida com a renda de, pelo menos, 20 jogos por ano de cada clube grande de futebol da capital: Sport, Santa Cruz e Náutico. Além desse montante, o governo estadual também estava comprometido a pagar parcelas fixas anuais de R$ 4 milhões à construtora e administradora do equipamento, a título de contrapartida pela construção e manutenção do estádio, até 2043.

Com isso, garantia-se uma receita total de R$ 2,3 bilhões à Odebrecht com a arena, apenas considerando as receitas vindas da contrapartida estadual (R$ 120 milhões) e da bilheteria das partidas dos clubes de Recife (R$ 2,19 bilhões).

No contrato, o governo se comprometia a fazer com que os clubes jogassem na arena nos próximos 30 anos, caso contrário ele mesmo arcaria com o prejuízo.

Pois bem, o estádio foi entregue em dezembro do ano passado. Dos três times que deveriam jogar suas principais partidas lá nos próximos 30 anos, somente o Náutico – o de menor torcida –  assinou contrato com a administradora do estádio.

Assim, o governo pernambucano foi obrigado a rever seus compromissos, por meio de aditivo ao contrato: ''O Estado de Pernambuco reconhece a existência de risco razoável de os três principais clubes de futebol pernambucanos não formalizarem, de imediato, o compromisso firme de utilizarem a Arena Pernambuco em suas 60 melhores partidas por ano, frustrando a condição de eficácia prevista na cláusula 71.1, item II, do contrato''.

Ou seja, caso o lucro da Odebrecht não seja o esperado nas próximas três décadas – e certamente não será, visto que somente um terço dos jogos previstos de fato acontecerão no estádio –  quem vai pagar a conta é o povo pernambucano.

De quanto será esta conta extra? Ninguém sabe até agora.

É que o governo estadual, embora soubesse desde o ano passado que Sport e Santa Cruz não iriam utilizar a Arena Pernambuco, deixou para encomendar um novo estudo viabilidade econômica da arena somente no mês passado. Assim que acabou a Copa das Confederações e o estádio passou ao controle da Odebrecht, o governo pernambucano publicou no Diário Oficial que a IFL Empreendimentos e Tecnologia fora escolhida para ''a objetiva constituição de novo plano de negócios da Arena e consequente aditivo contratual''. O relatório da consultoria ainda não foi divulgado.

Para ficar mais claro: primeiro o Estado de Pernambuco garantiu em contrato que iria dispor de recursos públicos para garantir o lucro da Odebrecht com a Arena Pernambuco pelos próximos 30 anos, e só depois de a obra ser entregue é que foi tentar descobrir quanto de dinheiro do contribuinte está empenhando no negócio.

E ainda não é tudo. Oficialmente, até agora, o custo da obra, entregue inacabada em dezembro de 2012, é de R$ 532 milhões (em 2010, previa-se que seriam R$ 389 milhões).  Acontece que a obra teve que ser acelerada em sua reta final para que pudesse ser entregue até dezembro do ano passado (e não mais dezembro deste ano), podendo, assim, ter sido utilizada na Copa das Confederações.

Com a alteração no calendário, vieram aditivos à obra, a serem pagos pelo Estado. É que foi necessário contratar mais um turno de mão de obra e fazer modificações que encareceram o projeto, na medida em que tornaram sua execução mais ágil.

E em quanto isso encareceu o projeto? Ninguém sabe oficialmente, os custos da obra ainda estão sendo contabilizados, informa o governo estadual, adicionando que o estudo de viabilidade ora em elaboração também será levado em conta nos cálculos. Resumindo, de quanto vai ser a conta, ninguém sabe, mas quem vai pagar, ah, isso é líquido e certo: o povo de Pernambuco.